Foi a convite da jornalista Maria Ramos Silva que aceitei responder à curiosa questão que me colocou em relação às figuras que colecciono e que conserto no meu Action Figure Hospital, juntamente com a minha equipa de entusiastas, que incluem os meus cunhados e a minha digníssima e talentosa esposa.
O artigo é curto e para aqueles que perderam a revista irei transcrevê-lo aqui na íntegra.
Agradeço aqui pessoalmente à Maria e ao fotógrafo Augusto Brázio a oportunidade que nos deram de revelar ao país a existência do Action Figure Hospital e da vontade que temos em coleccionar estes artigos a que quase ninguém liga ou que marca imediatamente como “coisas para putos”.
E se a cabeça cai? Ou se as pernas se partem? Os bonecos reclamam SOS como as pessoas. Adoecem sem queixumes. Gemem em silêncio, à espera que mãos hábeis inventem curativo. Nuno Mata, 33 anos, Licenciado em Design de Interiores, é pintor e colador no seu hospital para figuras de acção, uma daquelas paixões imberbes que só conhecem dois destinos. Ou definham com o tempo ou são promovidas a mania. A segunda vingou de tal maneira que não viu apenas nascer um banco de urgência para pacientes de plástico. Ganhou consentimento para devorar as assoalhadas. “Começa a faltar espaço. Está tudo guardado em casa.” Na dele. E na dos pais. Entre vitrinas e caixas, algumas já “mesmo atrofiadas”. Mas a legião de bonecos respira saúde entre os dedos de um dono exemplar. Americanos, miniaturas da Disney, bonecos promocionais dos Olá, exemplares em PVC, a menina dos olhos do espólio pessoal. Têm igual residência online em http//www.actionfigurehospital.blogspot.com/,blogue que Nuno mantém com a restante equipa de enfermeiros: Ana Alves, Tiago Alves e Inês Anfilóquio. São mais de 300 artigos postados, cada qual abarcando grandes colecções. O balanço total acusa uns “2000 artigos, aproximadamente”. Somam-se mais 4000 exemplares de BD, outra febre que não conhece antipirético.
Nuno colecciona bonecos desde os 5 anos, segundo uma fórmula simples: “Quando se é miúdo compra-se umas coisas e brinca-se com elas.” Também ajuda, e como, ter boas fontes na família. “A minha avó trabalhava na Disvenda, em Odivelas, e trazia-me mãos cheias de bonecos tradicionais.”Depois, há sempre “aquele teseouro extraordinário”. Como uma figura do Tintin de 1948. Ou uma estátua do Homem-Aranha dentro de casa.
Entraram em casa para ficar porque nunca se sabe quando voltaram a cair no goto, mesmo quando o encanto parece esgotado. “Não consigo desfazer-me da minha colecção. Só se tiver repetidos. Tenho figuras de que já não gosto mas posso voltar a gostar delas. Prefiro conservá-las como memória histórica pessoal.”
In revista Nós por Maria Ramos Silva e fotos de Augusto Brázio.